Dicas e Turismo

Cuidados em Marrakech

Como prometido no post de abertura de Marrakech, conto agora sobre uma situação que vivemos nesta cidade e que pode ser considerada como uma das roubadas em Marrakech ou ciladas de Marrakech. Confesso que nos deixamos levar pela simpatia dos marroquinos apesar de ter lido previamente na internet, antes de fazer essa viagem, sobre algumas pegadinhas desse tipo.

Eis que no primeiro dia inteiro de passeio por Marrakech, a poucos passos da famosa praça Jemaa el Fna, estávamos caminhando à procura de um atrativo turístico chamado Medersa Ben Youssef, uma antiga escola islâmica da cidade e aberta à visitação. Dando a maior pinta de turista com máquina fotográfica no pescoço, mapa nas mãos e o dedo apontado para alguns caminhos, tentado descobrir por qual deles devíamos seguir.

Um simpático garoto marroquino de seus aproximados 13 anos começou a nos perguntar: english? español? français??? Ahhh, Ronaldinho!!! rsrs Pois é! Foi nesse momento que ele descobriu que éramos brasileiros e mostrou que o danado sabia mesmo umas palavras em português.

Este mesmo garoto nos perguntou o que estávamos procurando e mesmo não querendo dar muita confiança, com a insistência dele, acabamos falando que queríamos visitar a tal Medersa Ben Youssef. Foi então que ele nos disse que a tal Medersa estava fechada naquele momento e nos indicou sua localização. Fiquei um pouco chateada pois era um ponto do roteiro que não daria para ver naquele dia, mas tudo bem!

Nesse exato momento a pegadinha teve início… O menino nos disse que não tinha importância, pois naquele dia estava rolando na cidade uma feira que “acontece apenas uma vez no mês” e que “hoje era o último dia”. Alguns artesãos do Alto Atlas estavam na medina para demonstrar suas técnicas de tingimento de couro (ou algo parecido) e seus feitos. Agradecemos a dica, mas não quisemos entrar nessa. Dissemos que deixaríamos para uma outra vez.

Não satisfeito ele insistiu que o evento valeria a pena e que estava bem perto dali. “Bem perto?”, perguntei. E ele confirmou! Olhei para o Franco. O Franco olhou para mim… E então, decidimos ir!

O garoto foi na frente com sua bicicleta indicando o caminho e estranhamente estava sempre olhando para trás, para se certificar de que o estávamos seguindo. Em um dos quarteirões que viramos e o perdemos de vista, logo o encontramos ajudando uma senhora à atravessar a rua.

Pronto! Pensamos… O garoto é gente fina. Vai nos levar para um bom lugar. É confiável… (pois, é!!!).

Depois de uns minutos ele se virou para nós e disse que pararia por ali, pois tinha algo a fazer. Mas o outro amigo dele, com aparentemente a mesma idade, que ele convenientemente encontrou pelo caminho, estava indo naquela direção, da feira que “acontece uma vez no mês”, e nos guiaria até lá.

Torci o nariz pela primeira vez. Achei estranho, mas continuamos a segui-lo. Da mesma forma o garoto ficava de 2 em 2 minutos olhando para trás para ver se o estávamos seguindo. E em silêncio, estávamos mesmo.

Vale lembrar que a Jemaa el Fna e suas mediações são atrações turísticas e como tais, rodeadas de viajantes. Os labirintos que irradiam dela com seus souks, também. Entretanto, depois de alguns minutos caminhando, o cenário começou a mudar. Os turistas começaram a desaparecer, os turísticos souks deram lugar para vendas mais simples de periferia, começaram a surgir algumas moradias bem simples e então, os moradores, conforme passávamos por eles, começaram a nos encarar de uma maneira bem estranha.

Pronto! (de novo). Comecei a ficar aflita e dizia para o Franco: ai meu Deus! É agora que vão pegar o nosso rim (rsrsr). Contando agora até parece engraçado, mas passei um certo medo…

O novo garoto continuava a olhar para trás e dizer que estava quase chegando… Mas o lugar nunca chegava. Foi então que subitamente ele parou, nos levou até um portão e nos entregou nas mãos de um senhor que era o responsável por um curtume, um local onde eles trabalham o couro cru, tingem e etc.

cilada marrakech 2

Mais tranquilos, começamos a visita a esse local de odor extremamente desagradável, assim que o tal senhor praticamente enfiou em nossos narizes um punhado de folhas de hortelã. Caracas… eu definitivamente ODEIO HORTELÃ, mas entre o cheiro daquele curtume e dessa folhinha maldita, preferi ficar com ela.

cilada marrakech 1

Caminhamos assim por todo o local. Ele foi nos mostrando detalhe por detalhe, explicando, do seu jeito, como era esse processo até que chegamos ao grande objetivo de todo esse passeio: “o lojinha!”. Isso mesmo, tudo aquilo era para nos fazer comprar alguns artigos de couro.

Quem me conhece sabe que não curto muito essa coisa de comprar lembrancinhas ou algo que sou forçada. Não, senhor! Sou de comprar poucas coisas em viagens e apenas aquilo que vale a pena ou que estou realmente precisando e será útil.

O senhor do tour nos entregou nas mãos do dono dessa loja, com seus 3 andares. O tal novo senhor começou a colocar um monte de coisas na minha frente e insistindo desesperadamente que eu iniciasse uma negociação. Apesar de estar com cartão de crédito, em dinheiro estava apenas com uma nota de vinte euros e uma de cinco. E eu iria gastar ali no máximo os 20 euros.

Não sabia qual era a margem de negociação, então comecei a chutar, uma vez que aquele cara muito chato queria, porque queria, que eu o fizesse. Apontei para uma bolsa e perguntei o preço:

Dany: Sr. qual o preço daquela bolsa?
Sr. muito chato: 100 euros. Mas quanto você quer oferecer?
Dany: 20 euros.
Sr. muito chato: Não, aí não. Muito baixo. Faço por 80.
Dany: 20 euros.
Sr. muito chato: Não, assim não dá. Deixo por 60 euros.
Dany: 20 euros.
Sr. muito chato: 50 e é a minha última oferta.
Dany: Senhor, eu tenho aqui 20 euros. Se quiser, é isso.
Sr. muito chato: Você pode passar cartão de crédito.
Dany: (eu torcendo para o Franco não abrir a boca). Estou sem cartão aqui.
Sr. muito chato: Você pode fazer assim. Me dê os 20 euros, leve a bolsa, e eu passo no seu hotel para pegar o restante. Onde você está?
Dany: (tá bom que eu diria a ele onde eu estava… #sqn). Não, senhor. Se quiser, 20 euros, se não, vou-me embora.

Por que eu disse isso??? E não é que o senhor muito chato se tornou um senhor muito enfezado e praticamente nos expulsou da loja dele? Nos levou até a porta, nos fez sair, e fechou na nossa cara.

Tudo bem!!! Não queria mesmo comprar nada ali e agora, podíamos seguir para nosso hotel… Eh! Mas não sem mais um pequena aventura….

Logo ao sair da loja, o primeiro senhor que fez o tour do curtume conosco, nos abordou e perguntou se tínhamos gostado. Como era também uma questão de gentileza, os 5 euros que tinha separado, demos a ele como gratidão àquele tour que não tinha preço tabelado e nem sinal de que era pago. Mas seria um agradecimento.

Foi então que esse senhor não quis pegar a tal nota e começou a dizer que não, que não, que não. Nós, ingênuos que só, dissemos a ele que era para aceitar, sim. Estávamos dando de coração! E então o senhor: “não, não! É pouco!”. What??? Tá de brincs comigo, tio?

Pois é caro leitor… O danado do tio queria de 10 a 20 euros para pagar o tour que inicialmente não era pago coisa nenhuma! E o pior? Assim que sinalizamos que era isso ou nada, (lembra daqueles moradores que nos encararam?) alguns deles se aproximaram, fizeram como uma rodinha envolta de nós e começaram a dizer: “pague a propina dele, pague a propina dele”.

Tínhamos ainda umas moedas no bolso. Coloquei na mão desse senhor a nota e as moedas, peguei o Franco, furei aquela roda e comecei a andar rápido, para longe dali. Nos sentimos extremamente coagidos em um lugar bem longe de turistas e pessoas a quem poderíamos pedir ajuda.

Disparamos em direção à praça que, naquele momento, nem fazíamos ideia em qual direção estava! E para fechar com chave de ouro, adivinhe quem apareceu mais adiante oferecendo ajuda para nos levar até a praça? O garoto número 2 que nos levou até ali.

Eu disse em português mesmo e bem alto: Ah tá meu amigo, nem f… vou atrás de você de novo! Puxei o Franco e começamos a procurar as placas que indicavam a praça. Ficamos mais tranquilos quando começamos a ver os primeiros vestígios de turistas, indicações para praça e finalmente chegamos nela. Um grande alívio!!!

Bom… Pode ser que eu tenha exagerado. Apesar de me sentir coagida e com um monte de marroquinos em cima de mim me obrigando a pagar a tal propina no valor que eles queriam, não aconteceu nada. Mas que era um esquema para eles te fazerem comprar coisas… Era sim!

Quando saímos de lá, começamos a ver outros casais turistas, sempre com um garoto à frente, levando-os para fazer o mesmo tour. Mas passou… e hoje damos risadas sobre isso.

Em nossa última noite na cidade, saímos do hotel e fomos à pé para a praça comer algo. No meio do caminho, um senhor bem arrumado e de bicicleta nos abordou e disse: “Oi, tudo bem? Lembram de mim? Eu trabalho no hotel, ajudei vocês com as malas”.

Começamos a conversar com ele a caminho da praça. Ele disse que tinha acabado o dia de trabalho e estava seguindo em direção ao mercado. Eu, bobinha, “vai fazer umas compras”? E ele: “não, vou ao mercado. É um mercado que acontece uma vez no mês”… TAN, TAN, TAN, TAAAAANNN!!!

Eu e o Franco nos olhamos, e então relembramos que não tínhamos pedido ajuda à ninguém para carregar as malas no hotel quando chegamos, mesmo porque estávamos de mochilas. Recordamos também dos tais eventos pegadinha que acontecem “uma vez no mês” e deciframos a charada.

Apesar do senhor ter nos convidado, dissemos que não iríamos, que primeiro jantaríamos na praça e decidiríamos depois. Ele começou a insistir de uma forma até mal educada: “primeiro mercado, depois comida”. Olhei para ele e disse: “Não! Vou para a praça e pronto!”. Ele injuriado, viu que não teria êxito e foi embora.

Moral da história: os marroquinos são bem simpáticos e conquistadores para te levar até “o lojinha”. Se você estiver a fim de comprar coisas, fabuloso. Acredito que será uma boa experiência. Caso contrário… não dê ouvidos para os mercados e feiras que acontecem “uma vez por mês”! rsrsrsrs

Aventuras em Marrakech??? Essa foi uma parte da nossa! A qual nos divertimos contando hoje e que achei importante compartilhar com você antes de sua viagem. E você? Viveu alguma situação parecida? Então conte pra gente nos comentários abaixo…


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